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Cheque especial: câncer do sistema financeiro

(brpress) - Não me refiro apenas ao pobre correntista, que paga juros de mais de 100% ao ano. Chamo a atenção também o Brasil como nação: é constrangedor termos níveis "agióticos" de juros. Por Wenderson Wanzeller.
Não me refiro apenas ao pobre correntista, que paga juros de mais de 100% ao ano. Chamo a atenção também o Brasil como nação: é constrangedor termos níveis “agióticos” de juros
Por Wenderson Wanzeller*, especial para brpress

(brpress) – Os banqueiros adoram. Alguns gerentes também. Tem banco que sequer permite abrir a conta se o cliente não autorizar a implantação. Quem já usou sabe o quanto é caro e difícil de se livrar. Definitivamente, o cheque especial é o câncer do sistema financeiro.

Argumentos não faltam para se cobrar as maiores taxas de juros do planeta. Os bancos dizem que o risco é alto, que se trata de uma linha de crédito disponível em tempo integral, que o índice de inadimplência é elevado, etc. Estes argumentos até que valeram no passado. Agora, com o advindo das linhas de crédito pré-aprovadas, o risco do cheque especial é praticamente o mesmo do crédito pessoal.

Quando um cheque especial é concedido, a instituição financeira é obrigada a provisionar recurso equivalente para uso do cliente. E por não haver uma previsão exata ou garantia de utilização, “justificava-se” manter taxas elevadas por conta do custo do dinheiro alocado. Mas isso mudou faz tempo. Depois da pré-aprovação de limites com taxas menores e, cuja formalização pode ser feita por meio de caixas automáticos ou internet, ficou tudo no mesmo nível.

Credit e behavior scoring

Existem duas grandes ferramentas para concessão e manutenção de crédito: credit scoring e behavior scoring. Em termos práticos, a primeira serve para analisar o risco do cliente e pré-aprovar os limites na abertura da conta. Já a segunda, é utilizada para analisar o comportamento do cliente e definir sobre o cancelamento, manutenção, ou elevação dos créditos conforme vencimento dos limites pré-aprovados. Resumindo: O cliente é medido, pesado e tem o risco de crédito analisado e revisto o tempo todo.

Quando alguém apresenta inadimplência bancária, torna-se devedor do crédito global utilizado. Essa história de que o risco do cheque especial é maior do que o crédito pessoal ficou no passado. Depois das ferramentas de crédito citadas, a análise é feita com base na capacidade de pagamento do correntista. A escolha do produto A ou B é mera formalidade. É imperativo que esta análise seja considerada para darmos início a uma equalização, para menor, das taxas de juros cobradas no Brasil.

Ao afirmar que o cheque especial é o câncer do sistema financeiro, não me refiro apenas ao pobre correntista, que paga juros de mais de 100% ao ano. Chamo a atenção para algo maior, ou seja, para a imagem do Brasil. É constrangedor termos níveis “agióticos” de juros. Isso é motivo de grande vergonha.

Taxas menores

A presidente eleita, Dilma Rousseff, ao conceder recente entrevista, disse que irá atuar no Banco Central para que a situação dos juros seja revista. A criação de um teto máximo para as taxas do cheque especial e dos cartões de crédito – como foi feito com o consignado –, poderia ser uma boa alternativa. E a Caixa Econômica, junto com o Banco do Brasil, teriam que ser os primeiros a dar exemplo. De preferência, antes mesmo da obrigação por força de normativo.

O Brasil precisa melhorar a imagem. Tem agiota cobrando taxas menores do que as do cheque especial. Os bancos públicos, inclusive, praticam taxas acima dos 8% ao mês. Esse câncer precisa ser extraído e, junto com ele, a vergonha de termos os maiores juros bancários do planeta.

(*) Wenderson Wanzeller é atuário, consultor de crédito e cobrança, comentarista econômico da Rede Canção Nova e atua no mercado financeiro há mais de 15 anos.

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